A oportunidade da IA: o caminho de Portugal para o crescimento económico
A Google tem vindo a trabalhar com a IA há mais de 20 anos. Mas o seu uso pelas empresas em Portugal ainda tem muito para crescer. Num estudo feito pela Implement Consulting Group em parceria com a Google, apenas 8% de todas as empresas no país usaram soluções em IA em 2023. As Pequenas e Médias Empresas (PME) são mais lentas a adotar esta tecnologia quando comparadas com as grandes empresas. Enquanto que 35% das grandes empresas portuguesas adotaram a IA no ano passado, apenas 7% das PMEs o fizeram no mesmo período. É por isso que o investimento em formação de novos profissionais é essencial para a adoção da IA no país.
A oportunidade da IA para Portugal
De acordo com o mesmo relatório, no seu ano de auge, em aproximadamente 10 anos, a IA generativa, por si só, poderia impulsionar o PIB de Portugal Continental em €18-22 mil milhões, ou seja, +8% de contribuição anual para o PIB no ano de pico se Portugal conseguir uma adopção generalizada.
Esse valor está alinhado com as estimativas referentes à União Europeia. O estudo sobre a região, também feito pela Implement Consulting Group, em parceria com a Google, estima que a IA generativa poderá acrescentar €1,2 a 1,4 bilhões ao PIB da UE daqui a dez anos – o equivalente a uma taxa de crescimento anual também de 8%.
Devido a algumas lacunas nos principais impulsionadores da adoção da IA, Portugal corre o risco de sofrer um atraso de cinco anos na adoção e no desenvolvimento da IA generativa. Um tal atraso reduziria o potencial anual do PIB de 8% para 2%, ou seja, de €18 a 22 mil milhões para €3 a 5 mil milhões.
Se analisarmos por setores, a IA generativa tem potencial para aumentar o valor acrescentado bruto:
- nos serviços empresariais com utilização intensiva de conhecimento em cerca de €6 mil milhões, por exemplo ao gerar conteúdo, a auxiliar na pesquisa e a automatizar processamentos complexos de dados.
- no setor do comércio, transportes e turismo, mesmo com um impacto percentual menor da IA generativa, ainda apresenta um potencial económico significativo de cerca de €5 mil milhões devido à sua grande dimensão.
- no setor público, com uma contribuição de cerca de €4 mil milhões, através de instrução personalizada na educação, apoio ao diagnóstico e interações com doentes na área da saúde e tratamento automático de documentos e tomada de decisão preparatória na administração pública.
- na indústria transformadora e na construção, com potencial para aumentar a produtividade em cerca de €2,5 mil milhões, embora o impacto percentual seja avaliado como sendo menor do que noutros setores; e
- na agricultura, a otimizar, por exemplo, as culturas através da agricultura de precisão e a otimizar o consumo de recursos, apoiando assim um potencial estimado de até €0,5 mil milhões.
O ganho na produtividade
De acordo o relatório, estudos académicos concluem que a produtividade do trabalho aumenta normalmente 2-3 pontos percentuais por ano após a adoção da IA ao nível da empresa.
Em Portugal, o impacto dominante da IA generativa é um aumento de produtividade para a maioria dos trabalhadores (60%), ao aumentar as suas capacidades, qualidade e eficiência, estimadas em €15-17 mil milhões para o país.
No seu auge, estima-se que o efeito da IA generativa na produtividade em Portugal seja equivalente a 1,5% por ano. É de recordar que a produtividade é o grande desafio da economia portuguesa. Neste momento, de acordo com a Associação Business Roundtable Portugal (BRP), a produtividade por hora em Portugal é apenas 71% da média europeia, pelo que esta é uma oportunidade única de apanhar o comboio da frente.
O estudo mostra ainda que 43% das empresas portuguesas esperam efeitos significativos na produtividade da IA generativa nos próximos anos. O potencial económico da IA generativa, por exemplo, no setor do turismo e da hotelaria, é estimado em mil milhões de euros em dez anos. Com um aumento estimado do crescimento da produtividade de 1,3% no ano de auge, espera-se que o setor se beneficie fortemente da IA generativa.
O emprego e a IA generativa
O relatório feito pela Implement Consulting Group estima que a IA generativa aumente as capacidades de cerca de 3 milhões (60%) de empregos em Portugal quando for totalmente adotada, com a automatização de uma parte limitada das suas tarefas e na ajuda da criação de conteúdos (texto, código e imagens), colaboração com os trabalhadores em problemas complexos e contributo para a conceção de produtos. Estes empregos incluem serviços profissionais, como jurídicos e consultoria, mas também professores e profissionais de saúde.
Ao contrário das vagas anteriores de automação que afetaram principalmente os trabalhadores manuais, espera-se que a IA generativa afete principalmente os profissionais que trabalham em escritórios.
Prevê-se que uma pequena percentagem de empregos (6% ou cerca de 300 mil empregos) tenha mais de metade das suas atividades de trabalho expostas à automação por IA generativa, como por exemplo o pessoal de apoio administrativo, vendedores em contact centers e tradutores. É provável que estes trabalhadores assistam a grandes mudanças nos seus empregos e possam ter de ser reempregados em novas profissões. No entanto, o estudo afirma também que historicamente estes números são relativamente baixos e pressupõe o pleno re-emprego dos trabalhadores deslocados durante um período de dez anos. Isto significa que não há alteração líquida do emprego nem do desemprego total.
O caminho para aproveitar os benefícios da IA
Na sua mais recente avaliação, a Comissão Europeia conclui que a UE deverá ficar significativamente aquém da sua meta de adoção de IA para 2030. Isto aplica-se a Portugal, uma vez que está na média da UE na adoção de IA, ou seja, abaixo dos países líderes.
Os impulsionadores da adoção da IA sugerem que Portugal corre o risco de perder terreno para os líderes europeus e globais, revelando que é necessária uma ação generalizada:
- No geral, Portugal está relativamente bem posicionado em termos dos drivers básicos de adoção da IA que garantem um ambiente seguro e fiável preparado para a IA. Portugal tem um desempenho particularmente bom em termos de ambiente operacional, mas pode fazer mais em relação à estratégia governamental e infraestrutura de computação para se aproximar dos pioneiros digitais.
- Tal como os seus pares, Portugal está atrasado nos drivers de inovação da IA a nível mundial, onde os Estados Unidos reivindicam a liderança. No que diz respeito especialmente ao talento, Portugal está significativamente atrás dos líderes do grupo D9+.
- Além disso, aplicações de IA mais especializadas e a obtenção de ganhos totais de produtividade exigirão um ecossistema de inovação coeso e competitivo que seja propício ao desenvolvimento e à aceitação comercial.
- Ou seja, Portugal precisa de se concentrar em reforçar os seus esforços tanto nos drivers básicos de adoção como nos drivers de inovação.
Para desbloquear a oportunidade da IA, é necessário criar confiança e preservar o incentivo para investir. O relatório sugere cinco perspectivas:
- Apoiar a inovação e investir na investigação e desenvolvimento de IA
- Construir capital humano e uma força de trabalho capacitada pela IA
- Criar uma regulamentação de IA positiva e alinhada
- Promover a adoção generalizada e a acesso universal
- Investir em infraestrutura de IA e poder computacional
Sem deixar ninguém para trás
Desde 2016, a Google formou mais de 135.000 pessoas em Portugal em competências digitais através do Atelier Digital e trabalhámos com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) para disponibilizar €2 milhões em créditos para investigação em IA. Adicionalmente, distribuímos 10.000 certificados profissionais, em colaboração com a APDC, em cursos como UX, análise de dados, gestão de projetos, entre outros. Ainda com a APDC, anunciamos recentemente o programa Impulso AI, que oferece oito cursos sobre IA a pelo menos 1.000 profissionais.
A Google.org está a disponibilizar financiamento à Raspberry Pi Foundation para expandir ainda mais o acesso ao Experience AI, um programa educativo criado em parceria com a Google DeepMind, que fornece aos professores a formação e os recursos necessários para educar e inspirar os jovens entre os 11 e os 14 anos sobre a IA.
E, hoje, gostaríamos de anunciar que Portugal vai receber cerca de €230 mil deste fundo para formar jovens residentes no país. Numa primeira fase, até dezembro de 2025, mais de 2 mil jovens participarão do programa numa parceria entre a TUMO Portugal e a Raspberry Pi Foundation.
Para que tudo isto aconteça, é necessário também investir em infraestrutura, de forma a que as novas produções, criações e inovações não tenham nenhuma limitação tecnológica. A Google, em 2022, inaugurou o cabo submarino Equiano, que reforça a conectividade entre Portugal e África, e, no ano passado, anunciou mais um cabo, o Nuvem, que deverá estar pronto em 2026, e liga Portugal aos Estados Unidos, incluindo os Açores.
A IA é, portanto, uma oportunidade única para Portugal crescer e realizar a ambição de estar entre os países mais inovadores do mundo.