Comprova: a força da colaboração para conter a desinformação nas eleições de 2022
Nota do editor: O texto abaixo é do autor convidado Sérgio Lüdtke, editor do Comprova, iniciativa lançada em 2018 com apoio da Google News Initiative, que tem como objetivo combater a desinformação, principalmente em período eleitoral, por meio da verificação de conteúdos duvidosos.
A quinta fase do Projeto Comprova encerrou as atividades nesta semana com a publicação de 378 reportagens que investigaram conteúdos duvidosos selecionados entre aqueles de maior alcance publicados nas redes sociais no Brasil em 2022. Desses, 96,7% foram considerados pelos checadores do projeto como falsos ou enganosos.
Este foi o ano de maior produção de reportagens investigativas no Comprova. O projeto monitora o ecossistema de desinformação e vem acompanhando grupos, perfis, páginas e sites hiperpartidários desde as eleições de 2018.
Muitos desses atores continuam ativos desde então, reforçaram sua presença durante a pandemia e se somaram a outros perfis e grupos que surgiram com as novas plataformas, especialmente as de vídeos curtos, que oferecem recursos e ferramentas para a criação rápida e facilitada de conteúdos atrativos para os usuários.
O vídeo é um meio excelente para veiculação de conteúdos mais emocionais, como são a maioria dos criados para desinformar. Os sistemas de indicação de conteúdos e o modo como as pessoas usam essas plataformas acelera a disseminação. A facilidade de compartilhamento de uma para as demais plataformas dá aos conteúdos falsos e enganosos uma fluidez que faz com que todo o ecossistema social seja irrigado muito rapidamente. A união de esforços para contenção desses conteúdos é fundamental.
O Comprova é o mais longevo projeto colaborativo de checagem de fatos já criado. Desde 2018 é cofinanciado pelo Google e liderado pela Abraji - Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Nesta quinta fase, 91 jornalistas de 43 organizações de mídia brasileiras receberam treinamento e participaram das investigações de conteúdos suspeitos sobre as eleições presidenciais.
As verificações no Comprova são colaborativas. Três a quatro jornalistas de veículos diferentes investigam em conjunto as peças de desinformação que têm mais alcance e engajamento nas plataformas sociais e em aplicativos de mensagens. Finalizada a investigação, o relatório passa por uma revisão por pares. Ao menos três outros veículos, que não participaram da verificação, precisam dar seu aval para a reportagem para que ela possa ser publicada. Coletamos em 2022 mais de 4,3 mil links para reportagens produzidas pelo Comprova e que foram republicadas pelos veículos de imprensa.
O Comprova também apoiou com treinamento e mentorias o Programa de Incentivo à Criação de Núcleos de Verificação criado pela Abraji e financiado com recursos do Google. O programa, inédito no Brasil, permitiu a criação de núcleos de checagem de conteúdos duvidosos que circularam nas redes sociais sobre as eleições estaduais em 36 redações. Os núcleos foram criados em todas as 27 unidades da federação e produziram 823 reportagens nos quatro meses de duração. Nesse período, 58 jornalistas receberam uma bolsa, cerca de 40 horas de treinamento, mentorias e participaram do Programa de Residência do Comprova.
Reduzir os efeitos de desinformação na sociedade é um desafio que vai muito além da verificação de peças de desinformação disseminadas em redes sociais. Uma das frentes mais promissoras é a da educação midiática, que se propõe a elevar a capacidade dos cidadãos para analisar criticamente os conteúdos que acessam. O Comprova ofereceu em 2022 um minicurso por WhatsApp para maiores de 50 anos e criou, com apoio do Google, um aplicativo para servir de apoio a ações de educação midiática na escola ou fora dela. O aplicativo recebeu o prêmio de Melhor aplicativo para o bem da Google Play Store e tem se mostrado um instrumento valioso e que se soma às outras iniciativas do Comprova para melhorar a qualidade do ambiente de informação no Brasil, requisito fundamental para uma democracia saudável.