Venture Capital e Startups: como romper com padrões e construir um futuro mais diverso e inclusivo nesses ecossistemas?
Ao longo dos últimos anos, acompanhamos amplos debates que discutiam a falta de produtos e soluções que atendessem grupos politicamente minorizados, como pessoas negras e mulheres. Buscando a raiz do problema, entendemos que faltavam pessoas que representassem e endereçassem as demandas desses grupos, sobretudo no ecossistema de inovação. Desde então, olhar para fatores como diversidade, equidade e inclusão (DEI) se tornou essencial para atrair e reter talentos das organizações de todos os tamanhos. No entanto, ampliar essa diversidade ainda é um desafio a se cumprir.
Divulgado em maio deste ano, o estudo "Panorama de Talentos em Tecnologia“, realizado pelo Google for Startups em parceria com a Abstartups e a Box1824, aponta que 50% das startups entrevistadas pelo levantamento consideram o mercado de tecnologia totalmente ou muito homogêneo em relação à raça, classe, religião e gênero. Ou seja: a falta de diversidade é perceptível e alarmante para aqueles que fazem parte desse ecossistema.
De olho nesse cenário, o Google lança um Guia para Diálogo sobre Diversidade, Equidade e Inclusão, cujo objetivo é orientar profissionais de fundos de Venture Capital (capital de risco) a fazer perguntas em profundidade que ajudem a entender como startups aplicam os valores de DEI na sua empresa e que também estimulem a presença de mais diversidade nos negócios em geral.
O lançamento do guia marca a primeira ação concreta do Fuel Kit, uma iniciativa do Google de longo prazo já existente em outras regiões que agora passa a ser adaptada para a realidade brasileira, com abordagens e conceitos específicos que ajudam a informar e fomentar a diversidade no ecossistema de inovação por meio de guias de conversação e workshops destinados aos principais agentes do ecossistema de VCs.
Panorama de Diversidade e Inclusão no cenário de VCs na América Latina
Em sinergia com a publicação do manual, o Diversity VC - organização global não governamental fundada para promover um ecossistema de fundos Venture Capital mais diverso e inclusivo - lançou, com o apoio do Google for Startups, a primeira edição do Relatório de Equidade Latam. O material fornece uma análise demográfica e das práticas e perspectivas do ecossistema de fundos de capital de risco na América Latina, ressaltando áreas nas quais houve progresso e outras nas quais as dificuldades ainda persistem.
O estudo identificou que menos de 10% dos ativos financeiros na América Latina são investidos em negócios cujo fundador pertence a algum grupo minorizado. O levantamento também aponta que os fundos que contam com pelo menos um administrador que seja parte de algum dos grupos socialmente minorizados recebem menos investimentos; isso também acontece naqueles fundos que são destinados exclusivamente a alocar parte do seu capital ou todo ele em negócios que aplicam DEI. Além disso, comparado à média dos fundos latino-americanos, os investimentos nesses fundos se concentram mais em empresas em estágio inicial.
No Brasil, pessoas negras, mulheres, pessoas LGBTQIAP+ e outros grupos minorizados que lidam com problemas de acesso à educação, recursos e oportunidades, acreditam que o mercado de tecnologia é um lugar no qual eles não têm oportunidade. E não é só quem observa de fora que é impactado pelas desigualdades: 57% das startups veem o mercado de tecnologia como excludente para mulheres e 55% acham o mercado de tecnologia excludente para pessoas negras.*
Esse é um padrão que se repete em toda a América Latina. Vemos as lacunas afetarem o mercado de investimentos, onde apenas 36% dos fundos entrevistados pelo relatório do Diversity VC dizem investir em iniciativas de mulheres, em um cenário conhecido de que mulheres enfrentam significativamente mais desafios do que os homens para alcançar posições de liderança e senioridade. Observando outros grupos, como os étnicos, LGBTQIAP+ e de pessoas com deficiência, a lacuna se torna ainda mais expressiva. Apenas 1,4% investem em empresas em que os fundadores têm esses perfis. Ou seja, essa soma indica que mais de 60% dos investimentos ainda é dedicado ao perfil mais comum de investidores, homens brancos, heterossexuais e cisgênero.
Na América Latina, 57% da população é formada por pessoas indígenas ou descendentes dos mesmos, com apenas 35% se identificando como branco ou europeu. No entanto, quando observamos o perfil dos sócios dos fundos de capital entrevistados em toda a América Latina, 66% se identificam como brancos, europeus ou descendentes de europeus. Se olharmos apenas para o Brasil, por exemplo, as pessoas negras representam mais da metade da população, mas é notório que essa realidade não se reflete em acesso a todas as esferas da sociedade.
Rompendo com os padrões
Cientes da nossa responsabilidade, temos trabalhado ativamente em soluções para endereçar este desafio. Por meio do Black Founders Fund, até o momento 56 startups brasileiras fundadas e/ou lideradas por pessoas negras foram selecionadas para receber recursos financeiros, sem contrapartida e participação societária. Além disso, a iniciativa apoia a expansão desses negócios ao conectar o grupo de fundadores a investidores, dando a oportunidade de apresentarem suas soluções e captarem investimentos, em um ambiente cercado por pessoas da comunidade negra do Google for Startups.
O guia de conversação para VCs é mais uma das formas que encontramos de apoiar de forma propositiva e prática a ampliação da Diversidade, Equidade e Inclusão, impulsionando figuras decisivas, como os fundos, a discutirem mais sobre o assunto com startups do seu portfólio.
Ainda há muito o que ser feito para diminuir as lacunas na indústria de tecnologia. Por isso, nós, do Google for Startups, encorajamos todos os fundos de capital abertos e startups a juntarem-se a nós na construção de um ecossistema tecnológico mais diverso, equitativo e inclusivo.