Como participantes do Black Ads Academy estão fortalecendo a diversidade na publicidade digital
"No Black Ads Academy, você só vê gente preta. É um mundo de profissionais incríveis que a gente já criou", conta a publicitária Larissa Benjamim. Ela participou em 2020 da iniciativa que oferece certificações para capacitar empreendedores e profissionais negros com conceitos de marketing digital e soluções de publicidade do Google.
O programa foi criado pelo AfroGooglers, comitê voltado para a equidade e inclusão racial no Google Brasil, e abraçado pelo Cresça com o Google em 2019.
Moradora de Osasco, São Paulo, Larissa atende grandes clientes do setor imobiliário e do comércio eletrônico na agência em que trabalha. Ela também usa o conhecimento que aprendeu no Black Ads Academy para colaborar com a família na criação de anúncios dos bolos da prima e das lojas do pai e do primo. "Vou ajudando do jeito que posso."
Black Ads Academy alia técnica e letramento racial
Faculdade concluída, certificações atualizadas e emprego na área ainda não garantem que as faces do racismo estrutural desapareçam do ambiente de trabalho. Por isso, o Black Ads Academy vai além de ensinar a parte técnica das ferramentas. No curso, os participantes também aprendem sobre letramento racial e os recortes raciais no ambiente de trabalho.
"O mercado ainda é muito difícil para nós que somos negros", diz Larissa, que também é integrante do comitê de diversidade e inclusão da agência em que trabalha. "As empresas já evoluíram muito, mas não adianta só falar que são diversas."
Iniciativas como o Black Ads Academy podem fazer a diferença na carreira. Larissa conta que os recrutadores costumam dizer que ter o curso no currículo "é algo muito legal". A troca com mais profissionais negros também é um ponto positivo do programa. "Criamos uma rede de apoio e eu converso com muita gente até hoje."
Desde que participou do programa, o trabalho de Larissa vem impactando de uma forma até então inédita para ela. "Meu salário é o maior de casa. Hoje, consigo proporcionar para a minha família coisas que a gente não tinha antes. A geladeira está sempre cheia e consigo fazer minha mãe trabalhar menos."
Também na turma de 2020 do Black Ads Academy, o analista de mídia João Victor de Mello, de Curitiba, Paraná, estava estudando comunicação quando começou a trabalhar com a ferramenta de anúncios. Convenceu o dono de um restaurante local a apostar no Google Ads e, desde então, nunca mais parou.
Por mais diversidade, inclusão e acessibilidade
João Victor já concluiu sete certificações do Google na área de marketing digital. Em suas passagens por agências, atendeu grandes clientes do varejo e agora busca um novo desafio em empresas conectadas com as pautas sociais. "Não basta ter programa de diversidade, tem que ser também de inclusão, acessibilidade e equidade."
Segundo ele, o Black Ads Academy trouxe, além da técnica de fazer anúncios, ensinamentos sobre recortes raciais semelhantes aos que aprendia em casa. "Eu já tinha esse letramento racial, porque minha mãe é bem politizada. Ela me incentivou muito a entrar na universidade e mudar a realidade da nossa família."
O analista de mídia também destaca o quanto a certificação pode melhorar as oportunidades. "O Black Ads Academy é importante para nivelar e trazer as pessoas negras para que elas avancem na carreira e tenham o que as agências precisam para contratar."
João Victor explica que "uma pessoa vai puxando a mão da outra e abrindo portas para quem está de fora". Enquanto procura por uma nova agência, ele usa seu conhecimento para ajudar um primo egresso do sistema prisional. "Ele tem uma empresa de colchões e eu faço os anúncios no Google para ele, gerando uma renda para nós".
Já a analista de mídia Indira Nascimento, de Salvador, Bahia, tinha uma boa bagagem de marketing offline antes de entrar para o mercado digital. Em 2021, soube do Black Ads Academy por recomendação do curitibano João Victor, com quem trabalhava remotamente na mesma agência.
Certificações trazem destaque na carreira
Atualmente, Indira atende cinco grandes clientes do varejo e vem se especializando cada vez mais em anúncios. "Considero a plataforma (do Google Ads) bem fácil de manipular e subo minhas campanhas sem dificuldades."
A analista entrou na agência em que trabalha atualmente após ser selecionada por um programa de inclusão voltado para pessoas negras e LGBTQIA+. "Esse meio ainda é muito branco, é impressionante", diz. "Na minha equipe de 20 pessoas os únicos negros eram eu e João."
Ao todo, Indira já fez cinco certificações do Google e destaca o impacto do Black Ads Academy em uma área que ainda é carente de profissionais com especialização em anúncios: "Quando a gente divulga os certificados, as pessoas começam a te procurar, porque o mercado ainda está escasso com o aumento das vendas online por conta da pandemia".
A busca por diversidade e inclusão para que o racismo estrutural nos ambientes de trabalho seja desconstruído "não é uma via de mão única", observa Indira. "Tem o lado das plataformas, o lado das agências e tudo isso tem que andar concomitantemente para não ficar desnivelado para ninguém".