Mulheres do Google Brasil: conheça Naiara Rocha, gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão
Com o intuito de celebrar e exaltar algumas das mulheres que fazem a diferença no Google Brasil, damos início a uma série de entrevistas com as profissionais que trabalham em diversas áreas da companhia, em que elas falam sobre carreira, representatividade no mercado de trabalho e paixões. Nesse post, você conhecerá mais sobre a Naiara Rocha, Gerente de Programas de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google para Canadá e América Latina. Ela é formada em Relações Internacionais pela PUC de Minas Gerais e já trabalhou em grandes empresas da área antes de se tornar uma Googler no escritório da empresa em Belo Horizonte.
Além de sua vida profissional, Naiara também é tutora do Nico, um vira latinha de quase 3 anos, que segundo ela, a ensina muito sobre como os humanos acham que são superiores a todas as demais formas de vida no planeta. Para ela, justiça social e econômica são temas cruciais para estabelecer qualquer tipo de relacionamento, sejam amizades, na vida profissional e outras. Ela acredita muito que as pessoas têm que recuperar a capacidade de sentir, de se sentirem afetadas e de humanizar cada vez mais as relações, especialmente as do âmbito do trabalho.
Quer conhecer mais sobre a Naiara? Confira a entrevista abaixo. Boa leitura!
O que você faz para se energizar? Como manter o autocuidado?
Eu amo o sol. Amo tomar sol. Amo estar ao ar livre. Seja na natureza, na cachoeira, na praia, ou num passeio com o meu cachorro Nico pelo meu bairro de manhã. Eu preciso do sol para me reenergizar e sentir aquele calor que nutre. Eu acho que uma estratégia de autocuidado é estar atento ao que nossos corpos nos pedem. A demanda do sol para mim é física e mental, afinal somos uma integralidade. Aprendi que físico e mental são um só, então me movimentar no sol é algo que me ajuda muito, praticar yoga no sol para mim é uma alegria. Com a pandemia ficou mais restrito a possibilidade de tomar sol e isso me afeta muito. Toda a oportunidade que eu tenho, seja um facho de sol que entra pela janela do meu apartamento, seja fazer uma trilha na Serra do Cipó eu topo porque sei que por mais desanimada que eu esteja na hora, quando eu encontrar com o sol vai ser um momento feliz.
Como você descreveria seu trabalho no Google para uma criança?
Meu trabalho no Google é fazer perguntas. Por quê estamos fazendo isso? O que estamos resolvendo? Para quem? Isso impacta a quem, de que forma? Fazer perguntas às vezes pode ser desconfortável e muitas vezes a gente não vai saber as respostas. Não saber é normal, perguntar nos faz pensar antes de tomar decisões. Pensar dá trabalho, incomoda, mas nos faz aprender e compartilhar pontos de vistas diferentes dos nossos e quando aprendemos isso, deixamos de pensar só no que nós queremos, para ampliar espaços de conversas e incluir outras perspectivas diferentes das nossas. Eu acho que fazer perguntas sobre as nossas ações, permite que a gente seja menos injusto com os outros.
Nos conte sobre um projeto do qual você se orgulha.
Acho que os projetos que mais me orgulho na vida não são os relacionados ao trabalho. Tenho um portfólio de projetos e entregas interessante na perspectiva profissional, mas isso me rendeu muitos constrangimentos na hora de fazer entrevistas por exemplo; as pessoas que me entrevistaram, não acreditavam que eu já havia trabalhado em tantos países, ou estudado em tantas universidades nos Estados Unidos, ou que eu falava mesmo os idiomas que meu currículo descrevia. Eu fui entendendo que na vida profissional o valor dado para os projetos bem sucedidos de pessoas negras, como eu, sempre precisarão passar no crivo e serem justificados via documentos, para as pessoas que estão avaliando. Isso me fez entender mais ainda a importância de eu voltar a minha matriz de valor e orgulho das minhas conquistas para a minha vida pessoal. Para uma pessoa periférica, como eu, ter uma renda estável para cuidar da minha família, ter a possibilidade de planejar minhas férias, de manter amizades de outros países, há distância (milhares de quilômetros), aprender sobre outros povos e culturas, poder resgatar o Nico e cuidar bem dele, de fazer trabalho voluntário em algumas instituições e ONGs que lutam pela equidade racial e de gênero, eu me orgulho dessas coisas. As demais atividades, principalmente as profissionais, estarão sempre sujeitas ao julgamento e preconceito de outros e o outro, no meu caso, é uma pessoa branca na maioria das vezes, que sempre duvidará da minha narrativa.
Nossa carreira é feita de altos e baixos. Você pode contar um momento difícil e como fez para seguir em frente?
Eu fui demitida em 2016. Acho que por fazer perguntas demais… na época eu não entendi muito bem o que aquele momento significaria para mim. Lidar com uma demissão pode ser muito difícil, afinal é uma rejeição. O que eu aprendi é que tudo tem um fim e na relação com o trabalho nada é definitivo. Logo, nós podemos também ser decisores nessa relação e há um mundo lá fora. Entender os momentos de fim nas nossas vidas deveria ser algo mais natural, afinal sabemos que nada é para sempre. Hoje, ao olhar para aquele momento, eu vejo a vida me dando um empurrão, me posicionando para oportunidades muito diferentes das que eu tinha vivenciado e me inspirando a deixar meu olhar correr para longe da minha zona de conforto. Sou muito grata por tudo que tive oportunidade de aprender nessa experiência profissional que durou até 2016, mas sou mais grata ainda por ela ter se encerrado e eu ter feito os caminhos que se seguiram, até eu chegar aqui onde estou hoje, muito consciente do fim das coisas.
Ainda precisamos abrir muitas portas para as próximas gerações de mulheres. Você já foi a primeira de muitas, seja no trabalho ou em outro projeto de vida?
Sim, infelizmente eu ainda fui a primeira em muitas ocasiões na minha vida. Desde ser uma das primeiras mulheres da minha família a ter curso superior, falar outros idiomas, ter acesso a outros países, até ser a única mulher em alguns ambientes de trabalho, a única mulher negra em ambientes acadêmicos. Existe um longo caminho a ser trilhado para que possamos atingir paridade de gênero sim e para mim, é indissociável pensar nessa paridade sem falar da interseccionalidade. Quais as portas precisamos escancarar para mulheres trans, negras, indígenas? É importante lembrar que algumas portas só abrem por dentro.
Se tivesse a oportunidade, que conselho você daria a si mesma no início de sua carreira?
Eu comecei a trabalhar com 15 anos, como menor aprendiz no Banco do Brasil, em parceria com as Obras Educativas Jardim Felicidade, em Belo Horizonte. Esse foi um momento muito marcante na minha vida, porque pude compartilhá-lo com outras adolescentes com vivências muito diferentes da minha, além de contar com a mentoria de profissionais incríveis que me educaram para o trabalho, como a Lúcia Silveira, que tenho muito carinho. Eu aprendi que trabalho é uma troca, logo nessa época. Aprendi que, sobretudo, na vida é a beleza que deve sempre nos provocar e nos mover.
Eu acho que o conselho que eu daria seria sobre nunca me desconectar desses valores. O mundo corporativo sequestra a nossa subjetividade a ponto de nos fazer perder a capacidade de nos afetar pelas belezas da vida. O que eu vejo é que agimos na pressa, no automático, algumas vezes por ego… não sabemos mais a razão pela qual nos movemos, pois o trabalho se tornou a centralidade da vida. Isso é triste.
Diga o nome de uma mulher que merece uma busca no Google para conhecermos mais sobre ela.
Tenho muitas referências, mas a Lúcia Xavier é um dos grandes nomes para mim. Eu me sinto privilegiada de poder conviver no mesmo tempo e espaço que essa mulher. Lúcia Xavier é uma das maiores militantes pelos direitos humanos no Brasil. Ela coordena uma série de atividades e move pessoas em defesa e promoção dos direitos das mulheres negras no Brasil. Ela é a coordenadora da Criola, uma ONG com 29 anos de atuação que instrumentaliza mulheres negras, jovens e adultas, cis e trans para o enfrentamento do racismo, sexismo, lesbofobia e transfobia.
Se eu não souber absorver a diferença, não sei como viver em sociedade.