Entrevista com Marcia Esteves, presidente da LEW’LARA\TBWA
Marcia Esteves
CEO & Sócia da Lew’Lara\TBWA
O Brasil ainda vive uma disparidade de gênero em cargos de liderança. Segundo uma pesquisa da consultoria Grant Thornton, apesar de sermos a maioria da população brasileira, nós mulheres ocupamos apenas 38% dos cargos de liderança no país - e este é um número que vem caindo ano a ano, desde 2021. Entretanto, ter mulheres na liderança é um bom negócio para as empresas: outro estudo da consultoria McKinsey mostra que empresas com mulheres em cargos de liderança têm tido melhor desempenho e podem gerar um aumento de até US$ 12 trilhões no Produto Interno Bruto (PIB) global até 2025. Só no Brasil, o impacto estimado seria de cerca de US$ 410 bilhões.
Como mulher que ocupa atualmente um cargo de liderança no Google, posso dizer como a presença de líderes mulheres foi importante não só para me inspirar, mas também para me ajudar a encontrar as bases para que eu pudesse crescer profissionalmente. Pensando nisso, iniciamos hoje no Blog do Google Brasil a série Mulheres Líderes, que mês a mês contará histórias de profissionais que estão transformando o mercado e rompendo barreiras.
Neste post, tenho a honra de iniciar a coluna entrevistando uma mulher que admiro muito e que tem feito um trabalho brilhante à frente de uma das maiores agências do Brasil: Marcia Esteves, sócia e CEO da Lew’Lara\TBWA.
A paulistana é uma das poucas mulheres liderando uma agência de publicidade no Brasil, além de acumular mais de 20 anos de experiência no mercado de comunicação, atuando na construção de diversas marcas. E, agora, você terá o prazer de conhecer um pouco da trajetória dessa pessoa e profissional incrível. Confira a entrevista abaixo.
Como você descreveria seu trabalho para uma criança?
Imagine que no seu quarto tem uma prateleira cheia de ursinhos de pelúcia que você mesmo fez. E você quer fazer mais ursinhos. Porém, a prateleira está cheia. Daí você chega para a Tia Márcia e diz: “me ajuda a achar pessoas que queiram meus ursinhos? Eu quero que as crianças brinquem com eles e que eu possa continuar fazendo ursinhos”. Então, a Tia Márcia pergunta: ‘o que seus ursinhos têm de especial?’. A Tia ouve com carinho, traduz aquilo que você disse em uma propaganda e direciona para as pessoas que possam gostar dos seus ursinhos.
Então, basicamente, a Tia Márcia te ajuda a contar a história sobre o seu ursinho para as pessoas se interessarem por ele.
Como uma líder importante na área de comunicação, qual o principal desafio que você está enfrentando? O que está fazendo para superá-lo?
Acho que o maior desafio hoje é simplesmente comunicar de forma correta. A gente perdeu os significados compartilhados por todos, pela comunidade em geral, para interpretações quase individuais.
O desafio antigamente era a diversidade das palavras em cada região: bolacha x biscoito, balão x bexiga. Hoje a maior questão é a definição sobre o significado de cada coisa, de cada sentimento, de cada pilar.
Pode contar um episódio que marcou a sua vida e ajudou a moldar a mulher que você é hoje?
Não consigo contar só um, porque a gente é uma montanha de tijolinhos. E, quanto mais velha a gente fica, com mais tijolos e mais parruda é a nossa casa. Na vida adulta, começar um estágio e receber meu primeiro salário foi uma sensação incrível – me achei independente, capaz, feliz. E essa sensação, essa alegria de me achar capaz e ao mesmo tempo independente me fez querer ser cada vez melhor – e o conjunto de episódios vivenciados e compartilhados me tornaram quem eu sou. Por isso, poderia dizer que todos os dias algo me marca e me transforma.
Como você ajuda outras mulheres a ganhar espaço e serem reconhecidas no mercado de trabalho e na sociedade como um todo?
A gente nunca sabe muito bem como ajudar – eu digo que sigo tentando fazer o meu melhor, dentro das minhas possibilidades. E na verdade não é ajuda, é simplesmente treinar o olhar para não fazer mais do mesmo.
Por exemplo, licença paternidade estendida para que o pai possa estar em casa para apoiar uma mãe e cuidar do bebê, criando nos homens um senso de responsabilidade com o cuidado da família, tarefa até então atribuída unicamente às mulheres.
Como líder e gestora, meu papel é todos os dias criar condições para que todos consigam crescer e se desenvolver profissionalmente.
Agora, especificamente para as mulheres, meu papel é normalizar mulheres em cargos de liderança. Ainda soa estranho, as pessoas não estão acostumadas a nos ver em determinadas cadeiras. Então, meu papel é estar presente e fazendo com que não exista mais estranheza uma mulher presidente, uma mulher no conselho de grandes empresas, e onde quer que seja. E sempre, incondicionalmente, abrindo espaços para que mais mulheres ocupem os espaços que quiserem.
Diga o nome de uma mulher que você admira para que as pessoas façam uma busca no Google sobre ela!
Juliana Azevedo, presidente da P&G para América Latina.
Ela é um fenômeno da natureza. Um exemplo de liderança humana, que inspira e constrói relações verdadeiras e de longo prazo, gerando resultados extraordinários para tudo o que se propõe a fazer.