Uma oportunidade de 100 bilhões de dólares para impulsionar as exportações digitais da América Latina
A Organização Mundial do Comércio previu recentemente que o crescimento do comércio mundial abrandará acentuadamente no próximo ano e o Banco Mundial acredita que o declínio das taxas de crescimento irá minar os esforços para reduzir a pobreza. Além disso, a inflação, os preços elevados da energia e as pressões fiscais estão no centro das atenções dos decisores políticos em toda a parte.
Neste cenário sombrio, uma área que permanece sendo uma fonte de otimismo é o potencial da transformação digital para desencadear o crescimento econômico e criar novas oportunidades, principalmente para as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que frequentemente são as mais vulneráveis às recessões econômicas. À medida que mais pessoas e empresas entram no comércio on-line, notadamente nos mercados emergentes, a internet continuará a criar novas oportunidades para as empresas exportarem e crescerem.
Um relatório que lançamos hoje oferece uma noção do tamanho da oportunidade, estimando que os investimentos certos na transformação digital podem aumentar as exportações de seis países da América Latina em US$ 140 bilhões anuais até 2030, um aumento quatro vezes superior aos níveis atuais.
Digital Sprinters
O relatório de hoje baseia-se em nosso estudo Digital Sprinters 2020, que forneceu um plano de como as economias emergentes podem acelerar a sua transformação digital com investimentos em quatro áreas-chave:
Infraestrutura: investir na conectividade digital e em infra-estruturas seguras e ambientalmente sustentáveis, incluindo gestão inteligente.
Pessoas: preparar as pessoas em todas as comunidades para os empregos do futuro, ajudando a capacitá-las treiná-las para a economia digital.
Inovação tecnológica: implantação de inovação tecnológica que pode desbloquear novas oportunidades. Aumentar a utilização de dados, inteligência artificial e computação em nuvem para criar eficiência e permitir o crescimento econômico.
Políticas públicas: criação de um ecossistema regulador previsível que promova a competitividade, mercados abertos, normas reguladoras interoperáveis e regimes fiscais baseados em normas internacionais.
Exportações digitais na América Latina
Para avaliar o potencial da América Latina, encomendamos uma nova investigação sobre as exportações digitais e o seu potencial de impacto em seis economias da região. Os resultados são notáveis. Em geral, os investigadores projetaram que as exportações digitais podem contribuir com mais de 2% do PIB para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Uruguai até 2030, ou aproximadamente 140 bilhões de dólares por ano, um aumento significativo em comparação aos atuais 34 bilhões de dólares, ou 0,8% do PIB.
A investigação identifica três formas pelas quais a digitalização está mudando o comércio na América Latina. São elas:
Acesso mais fácil a novos mercados. A maioria dos ganhos econômicos atuais e potenciais provém de ferramentas digitais que facilitam o acesso a mercados estrangeiros, tornando mais fácil a venda no exterior. O que antes exigia um pesado investimento inicial e a navegação em processos burocráticos complexos pode agora ser tratado on-line, de maneira simples por um smartphone ou tablet. Mais de 60% do crescimento econômico é impulsionado por ferramentas como os anúncios on-line, que são mostrados exclusivamente aos consumidores no exterior. Os serviços de nuvem são outro motor das exportações digitais, graças a novos investimentos em infraestrutura na região, como as regiões de nuvem do Google em Santiago, Chile, e São Paulo, Brasil.
Novos produtos. A segunda área, que representa mais de um terço dos ganhos esperados, é a exportação de uma gama crescente de novos produtos e serviços digitais. Este é o caso das aplicações móveis que encontram uma audiência global por meio da Play Store e outras plataformas. Mais de 2,5 bilhões de pessoas em mais de 190 países utilizam o Google Play todos os meses. E mais de 2 milhões de desenvolvedores trabalham conosco para construir negócios prósperos e alcançar pessoas em todo o mundo. O streaming de vídeo é outro exemplo de que o conteúdo produzido num país pode ser facilmente exportado. Ao pagar mais de 6 bilhões de dólares aos criadores entre 2021 e 2022, o YouTube está permitindo que os conteúdos e a cultura transcendam as fronteiras.
Digitalização dos processos empresariais. Uma terceira área que está a contribuir para o crescimento das exportações é a digitalização dos processos empresariais. Por exemplo, procedimentos sem papel na fronteira ou nos portos, e-mail ou formulários on-line em vez de chamadas telefônicas, e tecnologias de computação em nuvem ou de inteligência artificial para simplificar maquinário comercial antes complexo, reduzindo ao mesmo tempo os custos. O Google Translate tem suporte para mais de 100 línguas, podendo traduzir websites inteiros, documentos digitalizados ou imagens, permitindo uma comunicação fluída entre fronteiras. Embora não seja considerada nas estimativas globais, a digitalização do comércio traria eficiências adicionais à balança comercial.
Uma grande oportunidade para as pequenas empresas
É fato que os pequenos empreendedores já estão usando o digital para fazer exportações. Por exemplo, Doris Canseco abriu uma loja de flores tradicionais no México, mas o mercado local limitado levou-a à internet. Ela utilizou o Google Ads para divulgar as Flores de Oaxaca, alcançando clientes na Europa, Estados Unidos e Canadá, entre outros locais. O negócio duplicou em tamanho e hoje as vendas online representam entre 60 e 85% das suas receitas totais.
Um caso semelhante é o de Germán Garmendia, nascido na pequena cidade de Copiapó, no deserto de Atacama, no Chile. Uma criança tímida e tranquila, que foi matriculada em aulas de teatro pela sua mãe. Alguns anos mais tarde, Germán começou a publicar vídeos on-line. Hoje, é um dos youtubers mais populares do mundo, com mais de 43 milhões de assinantes no HolaSoyGerman e 46 milhões no JuegaGerman, que tem usado a plataforma para explorar outras áreas.
As histórias de Doris e Germán refletem uma tendência mais ampla na América Latina e em outras regiões, na qual as ferramentas digitais estão democratizando o acesso à economia global e criando novas oportunidades que não existiam na geração anterior. O novo relatório sugere que os governos, juntamente com o setor privado e a sociedade civil, adotem políticas e invistam para reforçar esta tendência.
Dados convincentes para governos e decisores políticos
O relatório examinou como os legisladores poderiam gerar oportunidades de exportação de uma forma inclusiva e sustentável. Com base na experiência anterior na América Latina, identificaram 11 recomendações em cinco áreas, que estão alinhadas com o Digital Sprinters:
(1) liderar a partir do topo;
(2) construir capital físico;
(3) desenvolver capital humano;
(4) melhorar a competitividade, e
(5) permitir a utilização de tecnologia.
Embora o progresso e as prioridades variem de país para país, as recomendações mais comuns incluem a promoção de infra-estruturas digitais, competências digitais, segurança digital e políticas que promovam o comércio.
Como o Google apoia a inclusão econômica pelas exportações
O relatório estima que a adoção de produtos digitais do Google promoveu o crescimento de 13% de crescimento das exportações nessas economias em 2021. Estamos orgulhosos desta contribuição e esperamos poder apoiar o crescimento futuro. Também estamos empenhados em apoiar o empreendedorismo e o desenvolvimento de competências em toda a região.
Quando abrimos o nosso Campus do Google for Startups no Brasil, em 2016, não havia "unicórnios" - startups avaliadas em bilhões de dólares ou mais - na região. Atualmente, existem 35, incluindo 13 unicórnios que fizeram parte dos programas do Google for Startups. Muitas destas empresas fazem exportações digitais, oferecendo seus serviços para além das fronteiras e ajudando pequenas empresas tradicionais a crescerem. Com investimento, recursos e formação do Google, apoiamos mais de 450 startups, que angariaram mais de 9 bilhões de dólares em investimento, gerando 25.000 postos de trabalho.
Também apoiamos a formação de competências digitais, tais como o marketing on-line transfronteiriço, que são fundamentais para desbloquear oportunidades para os empresários. Por meio do nosso programa Cresça com o Google e das doações do Google.org, treinamos quase 8 milhões de pessoas na América Latina em competências digitais desde 2017. Para aproveitar este impulso, anunciamos recentemente que iremos fornecer bolsas de estudo de Certificado de Carreira Google para formar mais 1 milhão de pessoas na América Latina, sendo 500 mil apenas para o Brasil, abrindo caminhos para empregos altamente remunerados em campos de alto crescimento.
Próximos passos
Numa época de incerteza macroeconômica global, é mais importante do que nunca duplicar o crescimento do comércio digital. Esperamos que este estudo,que estamos lançando hoje, contribua para destacar as oportunidades e políticas necessárias para alcançar este crescimento, e também ajude as comunidades e legisladores da América Latina a alavancar a transformação digital para se tornarem Digital Sprinters.
